
O que são ferramentas cognitivas?
Este texto defende que a utilização de computadores e determinadas aplicações informáticas enquanto ferramentas cognitivas, está directamente relacionada com a forma como estas promovem a qualidade de pensamento diversificado nos alunos. Assim, ferramentas cognitivas são aplicações informáticas utilizadas pelo aluno para representação dos seus conhecimentos, alicerçadas num pensamento reflexivo significativo. Para isso, as tecnologias informáticas devem funcionar como “portais” de acesso à informação, à interpretação, à organização e à representação do conhecimento pessoal. A aprendizagem com ferramentas cognitivas depende do envolvimento cognitivo dos alunos nas actividades que estas possibilitam, logo, o sistema aluno e tecnologia reforça as potencialidades dos dois elementos, integrando-os, por um lado o pensamento e aprendizagem do aluno, e por outro as potencialidades do computador.
O ensino apoiado pelo computador tem-se desenvolvido mediante três utilizações básicas: exercícios de repetição e treino (exercícios reforçados pelas associações estímulo-resposta - reduzem o conhecimento a um automatismo, logo, desenvolvem uma aprendizagem mecânica, pouco reflexiva e complexa); tutoriais (sequência dos ciclos de apresentação-resposta-feedback - reduzem o conhecimento a uma única interpretação do mundo, a apresentada pelo computador); e, sistemas tutoriais inteligentes (mecanismos de instrução e inteligência artificial, funcionam como procedimentos de modelação especialista/aluno - reduzem a prática reflexiva e simulam a inteligência mecânica utópica para um ser humano). Qualquer uma destas práticas apresenta o computador como uma programação de ensino que dirige as actividades no sentido da aquisição de conhecimento e competências pré-definidas, uma aprendizagem a partir do computador. Aqui o espaço para uma “prática reflexiva” é quase inexistente, o conhecimento é inerte.
Existe uma grande diferença entre a consciência verbal das componentes do computador e a capacidade de transformar esse conhecimento em algo produtivo, prático. A literacia é a capacidade de operacionalizar, de utilizar, de aplicar e não se reduz a uma mera memorização dos componentes informáticos. Durante algumas décadas os alunos aprenderam apenas o vocabulário, o que reduziu a literacia apenas à memorização mecânica, no entanto a compreensão das funcionalidades do computador implica um conhecimento efectivo da sua aplicação, inserida em alguma actividade significativa, ou seja, orientada para os objectivos pedagógicos da escola. Não basta aprender sobre computadores, o conhecimento efectivo materializa-se na acção do sujeito, na utilização consciente das suas ferramentas.
Numa perspectiva construtivista, recente na história da informática educacional, a tecnologia surge como parceira no processo educativo, como apoio à construção de significados. As ferramentas cognitivas surgem como ferramentas informáticas de estímulo ao pensamento crítico e a uma aprendizagem de ordem superior, de ampliação e reestruturação cognitiva. Estas ferramentas envolvem activamente os alunos na criação de conhecimento, obrigando-os a compreender e conceptualizar a informação, o conhecimento passa a ser uma construção e não uma transmissão passiva de informações, logo, estimula a reflexão, manipulação e representação de significados.
Na opinião de Jonassen, Peck e Wilson, a aprendizagem significativa é: activa (manipulativa/observante); construtiva (articulatória/reflexiva); intencional (reflexiva/reguladora); autêntica (complexa/contextual) e cooperativa (colaborativa/conversacional). Como já foi referido, as ferramentas cognitivas promovem a aprendizagem significativa.
Esta nova teoria da aprendizagem, o construtivismo, aplicada à tecnologias, baseia o conhecimento no processo da sua construção, e neste sentido, as ferramentas cognitivas enquanto elementos de organização e representação participam nessa construção da realidade, através da interpretação das nossas experiências no mundo. A aprendizagem é activa e resulta de uma negociação social, na definição de significados e construção de interpretações comuns, e as ferramentas cognitivas funcionam como formadoras de conceitos de forma colaborativa e de construção de conhecimento.
Uma das críticas ao pensamento construtivista é a ausência de pensamento reflexivo, ou seja, é necessário compreender as nossas experiências e conhecimentos, adicionando novas representações, modificando as antigas e comparando-as, o conhecimento é um exercício que exige deliberação. Donald Norman distingue dois tipos de pensamento – o experencial, que resulta das experiências e é automático, e o reflexivo, que exige uma reflexão, uma deliberação. As ferramentas cognitivas comprometem os alunos à prática de um pensamento reflexivo na construção do conhecimento.
Quer as tecnologias cognitivas quer as ferramentas cognitivas, são elementos que permitem ao aluno a transposição das suas próprias limitações, e que apoiam novas formas de pensamento e raciocínio, tornando possível o desenvolvimento de capacidades existentes no aluno, mas também as suas capacidades potenciais. Linguagem e computadores, enquanto tecnologias educativas, alargam o pensamento do aluno. As ferramentas cognitivas ampliam e reestruturam o funcionamento cognitivo dos alunos na sua aprendizagem, envolvendo-os em processos cognitivos de construção do conhecimento.
Razões práticas para a utilização das ferramentas cognitivas:
- utilização dos computadores como ferramentas cognitivas pela falta de disponibilidade de software educativo tradicional;
-as ferramentas cognitivas exigem uma aprendizagem de programas ou pacotes de software já disponível nas escolas, o que reduz o seu custo;
- as ferramentas cognitivas permitem o desenvolvimento de quase toda a globalidade do currículo, oferecendo eficácia na aprendizagem relativamente ao tempo e ao esforço.
É necessário distinguir ferramentas cognitivas de ferramentas de produtividade e as ferramentas de construção de conhecimento das de utilização de informação, assim como definir critérios para avaliar e usar qualquer aplicação como ferramenta cognitiva.
Como referi anteriormente, a aprendizagem a partir e sobre os computadores, deve ser substituída por uma mais complexa, que defende que se deve aprender com os computadores. Isto significa que se deve utilizar o computador como uma ferramenta com a qual se aprende, transformando-o num meio para ajudar o utilizador a realizar uma determinada tarefa. As ferramentas de produtividade são utilizadas de uma forma apropriada na sala de aula de modo a implicar o aluno na aprendizagem, programas de processamento de texto, programas de gráficos, os CAD, são alguns exemplos de ferramentas de produtividade. No entanto, estas ferramentas não reestruturam nem ampliam significativamente o pensamento ou as capacidades do aluno, daí que se que se apresente apenas como uma possibilidade, funcionam como uma forma de produzir ideias. As ferramentas cognitivas promovem a capacidade de pensar do aluno, e como utilizar o computador para apoiar e ampliar essa aprendizagem.
A Internet e a WWW proporcionam aos alunos diferentes perspectivas ou informações, facilitando a construção de bases de conhecimento, alicerçadas no uso de outras ferramentas cognitivas.
Alguns dos critérios para avaliar ferramentas cognitivas são: ferramentas baseadas no computador, aplicações disponíveis, preço acessível, construção de conhecimento, generalização, pensamento crítico, aprendizagem transferível, formalismo simples e poderoso e de fácil aprendizagem.
Em suma, as ferramentas cognitivas são ferramentas de representação do conhecimento que utilizam programas de aplicação. Estas apresentam-se como uma forma eficiente e eficaz de integrar os computadores nas práticas educativas, e podem ser utilizadas transversalmente no currículo. A sua aplicação obriga os alunos a pensar significativamente acerca dos conteúdos facilitando a construção e reflexão do conhecimento produzido.
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